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O que me vem a cabeça assim que vejo as ondinhas do ferry em movimento é o clássico
"The magical mystery tour is waiting to take you away ..." |
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A Istabul européia vai ficando para trás |
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Um ferry prá chamar de meu .... não tem preço! |
E aí está nosso barco, deixando a Europa rumo a Ásia ... E foi assim que naveguei essa sexta-feira de inverno, barco completamente vazio, tanto na ida quanto na volta :) Ahhhh o sossego, a tranquilidade, o privilégio de ter um barco prá chamar de seu - assentar onde quiser, fotografar de onde quiser sem ter cabeças photobombando ... me sentindo muito mais VIP que Sir Paul na festa pós-Grammy do rapper.
Essa espuminha formada pelo motor do barco assim que se põe em movimento é um dos meus balés favoritos. Adoro o som, o ritmo, o inicinho de náusea que começa a querer se formar no estômago ao sentir o cheiro do diesel queimado - felizmente NUNCA tive problemas com barcos, acho que nasci prá navegar. O vento na cara, o cabelo todo atrapalhado, é quando estou no meu elemento. Dali do barco a gente vai vendo todos os monumentos antiquérrimos e modernos de Istanbul: palácios, arranhas-céu, mesquitas, pontes e torres. A travessia dura menos de 30 minutos. A mesquita enorme de Uskudar me recebeu com o Ezan, chamando os fiéis para o Namaz. Era pouco depois do meio-dia, a cidade estava tranquila. Do porto parti direto rumo a Torre de Leandro - antes, porém, parei para apreciar as dezenas de gaivotas sobrevoando o Bósforo. Algumas vezes a famosa cena dos patos do filme Notebook me vem a lembrança. A Torre de Leandro é um dos monumentos mais marcantes. Primeiro, porque amo faróis. Segundo, porque desde sempre me lembro dela; numa danceteria que fomos muitos anos atrás, lembro de vê-la pela parede de vidro, ao longe, iluminada. Somente em 2013 tive a felicidade de ficar cara-a-cara com ela, numa noite quente de verão. Eu adoro sua lenda. E foi estranho ao me ver explicando sobre ela com detalhes de guia turística, para um grupo de garotas americanas. Essas três meninas me perguntaram se eu sabia o que era aquele monumento - e eu dei detalhes e só parei de falar quando a voz ficou extremamente trêmula, devido ao frio. Elas pareceram contentes e agradeceram bastante, após me ouvir. Sim, dou prá coisa :)
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Assim que pisamos em terra firme, damos de cara com essa floricultura em plena rua, com as mulheres montando os arranjos |
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E esse relógio enorme, bem em frente ao porto |
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"Gaivota querida Pousa perto de mim" ~NMatogrosso |
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"De asas paradas - voando no sonho ... " |
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As ciganas |
Desde sempre me falaram que as ciganas são más - elas roubam crianças e roubam anéis de ouro. Hoje em dia, do alto dos meus quase 50 anos, imagino que, sinceramente, elas não devem fazer isso - mas sei que gostam bastante de arrancar uns trocados da gente. Como ainda tenho medo delas me sequestrarem, sempre as evito, principalmente nas praias, quando pedem para ler nossa mão. Aqui em Istanbul é muito fácil, desviar delas, pois mesmo se quisesse, seria impossível, por não dominar a língua. A próxima vez que me encontrar com elas, me proponho o desafio de não evitá-las e talvez comprar uma flor e receber uma bênção cigana.
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Essa mesquita fica no caminho entre o porto e a Torre de Leandro. |
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Em toda a margem, os cafés recobrem os degraus com tapetes e almofadões. Durante o verão aqui fica lotado, é difícil encontrar um lugar para assentar. No mês de Ramadã, o movimento dura até tarde da noite. Como essa foto foi tirada no inverno, não havia ninguém |
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As pessoas se reúnem a beira do Bósforo para um chá ou café. |
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ou um simit |
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Kiz Kulesi, Minha linda! Fotografia perfeita, a bandeira, gaivota e o barquinho passando a sua frente
Uma das lendas turcas mais populares conta que um sultão tinha uma filha que adorava. Um dia , um oráculo profetizou que ela seria morta por uma cobra venenosa no seu 18º aniversário. Num esforço para evitar a perda prematura da filha, o sultão colocou-a longe da terra, para que ficasse longe de cobras, para o que mandou construir a torre, onde a visitava frequentemente. No 18º aniversário da princesa, o sultão levou um cesto de frutos exóticos como presente. Assim que a princesa se aproximou do cesto, foi mordida por uma áspide que se tinha escondido entre as frutas. A princesa acabou por morrer nos braços do seu desgostoso pai, que assim viu concretizada a profecia. Supostamente o nome de Torre da Donzela tem origem nesta lenda.
O nome mais clássico de Torre de Leandro tem origem noutra história que também inclui uma donzela: o mito grego de Hero e Leandro. Hero era uma jovem sacertodisa de Afrodite e Leandro era um jovem da cidade do outro lado do estreito, que se apaixonou por Hero. Todas as noites Leandro atravessava o estreito a nado para se encontrar com a sua amada. Para o guiar no escuro, Hero acendia uma lanterna, que colocava no topo da torre onde vivia. No inverno, numa noite de tempestade, as ondas arremessaram Leandro ao mar e o vento apagou a lanterna de Hero. Sem nada que o orientasse, Leandro perdeu-se no mar e acabou afogando-se. Desesperada pela morte de Leandro, Hero atirou-se da torre.
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"Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?" ~Frida Kahlo.
Resposta: Para chegar até aqui .. E de botas!!! |
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Vento ventania. Tive medo de derrubar meu celular, seria um abraço |
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A Torre vista das pedras ... pq a diferentona não se contenta em sentar nos tapetes e almofadas né |
Encontrei essas pedras, que ficam em frente a Torre de Leandro. Daqui vi saltarem mergulhadores, durante o verão. Parece não ser o lugar mais seguro para ponto de observação, mas é o meu - e é aqui que eu vou sempre voltar, quando vier a Uskudar. Aqui um senhor dinamarquês puxou papo comigo, em 2014. Pelo cordão verde-amarelo da minha câmera, ele deduziu que era brasileira, e engatamos uma conversa, até que sua esposa o chamou no celular para ir almoçar, a la Mama Maria, que lembrava a hora do rango na mesa nos anos 80. O dia estava bem diversificado: uma chuva fininha começou a cair, depois ficou nubladaço, depois o céu ficou azul novamente .. parece que é um "tipico dia de inverno em Istanbul.
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Os cargueiros custam a caber dentro da tela. É sempre uma ginástica. Vêm da Russia na maioria das vezes |
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Me lembrou a cena dos patos, do Notebook |
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Através das correntes enferrujadas |
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Um dos cravos provavelmente caído das ciganas. Está comigo, como oferenda a Iemanjá |
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Pescadores e tomadores de chá/café em geral vendo a vida passar |
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Dia de faxina na mesquita? Imagino que tiraram os tapetinhos para lavar |
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Achei essa moça muito elegante, com o seu véu estiloso |
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Brinquei demais com essa gatinha, num banquinho na lateral da mesquita. Também dei comida prá ela. quando voltei pelo mesmo caminho para pegar o barco, ela estava ao lado de uma muçulmana, que lia um livro |
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Ai dentro ficam túmulos de sultões. Esse senhor aí botou a boca no mundo quando a mulher a minha frente tentou entrar sem tirar os sapatos .. e olha que ela era turca! Devia estar se fazendo de besta e se deu mal |
Pela primeira vez, desci até a parte comercial da cidade (das outras vezes que visitei Uskudar, fiquei somente na região da Torre de Leandro, apreciando a vista e o por do sol). Não vi muitos turistas (a maior vantagem em viajar fora de temporada!) e deu prá ter uma idéia da rotina deles - que é bem normal,igualzinha a nossa mesma - a única diferença é que não precisamos de ter medo que um pivete vai roubar nossa bolsa, câmera ou celular a cada instante. Passei em frente a um hospital em moderno, uma farmácia, floricultura e uma loja de artigos de beleza, onde três gatos lavouravam livremente entre as freguesas. Como estava fazendo bastante frio, eles estavam aproveitando o aquecedor/ambiente fechado; e a maioria dos estabelecimentos e clientes em geral os recebe numa boa (vi gato deitado até em cadeira de cafeteria, e o pessoal respeitando na moral o sono dos justos do bichano, escolhendo uma outra mesinha para lancharem).
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Vendedor gatinho |
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Hastane = hospital |
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Floricultura; cicek é minha palavra favorita em turco |
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Uma montanha de kofte - aquele tipo de quibe que servem assado no palito de churrasco |
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Eczane = farmácia |
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Os três mosqueteiros, dentro da loja de produtos de beleza. Aqui dentro o aquecedor estava ligado |
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Esses botequinhos são super tipicos, e deixei de comprar a toalha por burrice!! Não me perdôo |
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Bandeira do Besiktas, um dos maiores times locais (ao lado do GAlatasaray & Fenerbahce) |
Saí do centro comercial e fui até uma área mais histórica - já era finalzinho de tarde, as pessoas pareciam já estar quaaaase se preparando para voltar prá casa (mas não hora do rush ainda). Essa parte da cidade aqui eu encontrei feira de frutas e verduras, peixaria e um bazar coberto, parecendo bem antigo. Também tinha uma mesquita. A impressão é que tinha voltado no tempo .. A vida em Uskudar parece passar mais devagar, mais tranquila que a agitação da grande metrópole. É a impressão que eu tenho - apesar dessas cidadezinhas fazerem parte da grande Istanbul, e estarem tão próximas, é como se a parte européia fosse totalmente diferente e mais frenética. A diferença é gritante.
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A riqueza da grade de ferro |
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Castanhas |
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O gatinho na porta da joalheria |
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Mas a jóia mais preciosa é justamente ... ele! |
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Na entrada do mercado. Esse homem me olhou de cara ruim quando viu que eu tirei a foto |
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Peixaria do Bósforo (Bogazici) |
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O hamsi é o peixe mais típico para acompanhar o raki.Tive o (des)prazer de degustá-lo com o Kerem ... vem fritinho e vc come tirando a cabeça. Fiz de tudo para despistar e não comer, mas ao menos 1 ou 2 fui obrigada, para não fazer desfeita |
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As folhas de uva, para fazer "dolma" (folhas recheadas de arroz e carne). Um dos pratos mais tipicos da Turquia. Ah, no Bazar de Especiarias vi um camelô vendendo uma maquininha de dobrar as folhas automaticamente ... pq elas precisam todas estar dobradas do mesmo tamanho. As noivas que não tem esse tipo de habilidade correm o risco de perder o pretendente, pois é um dos quesitos principais, e elas são avaliadas/julgadas pela sogra |
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Azeitonas (zeitin) de todos os tipos, cores, tamanhos e procedências. Deliciosas |
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Vendedor de pimenta (biber) |
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Cães e gatos têm estações de água e comida espalhadas pela cidade |
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A praça do Bazar |
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Salep - a bebida típica de inverno, feita a base de pó de orquídea e leite, servida com canela |
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Crianças brincando supervisionadas por seus pais |
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Entardecer |
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A vida passa muito tranquila aqui. Todos na praça estilo "deixa a vida me levar". Sensação deliciosa |
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Esse gatinho está dentro da vitrine de cacarecos & eletrônicos |
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A entrada do Mercado de Peixes (baliklar) |
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Aqui dentro existem túmulos |
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Detalhes da lápide ricamente adornada |
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Pilastra do pátio inteno da mesquita. Na verdade, estava tentando tirar a foto de um homem muito bonito que estava aqui, mas ele me flagrou, e tive que redirecionar a câmera na hora, despistando |
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Torneiras para ablução |
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A entrada para o pátio da mesquita |
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Esses irmãozinhos têm problema de vista. Os dois. Cheguei perto para brincar e alimentar. |
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Hora de voltar para Europa |
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O chá (cay) |
A volta .... novamente, a delícia de um barco semi particular. O sol já começava a querer se por, e foi só curtir e relaxar. Geralmente eu viajo no fundão, próxima a bandeira, tomando água e vento no rosto e cabelos, faça sol ou frio. Adoro observar os diferentes tipos de barco que atravessam o nosso caminho - alguns tão derrubados que parecem barcos piratas; lanchas, outros ferries. Ao longe, as silhuetas já tão familiares; quis registrar essa foto do Estádio do Besiktas em reforma (desde 2014!) ; ao fundo Suzer Plaza, que é onde fica o Carlton-Hilton onde fui levar as doações de material escolar do projeto Pack for a Purpose .. me deu uma trabalheira do cão, porque o hotel fica numa área super difícil de chegar a pé. O ônibus te deixa no meio da ladeira, e você tem que andar prá caramba até encontrar uma entrada para a praça - toda a volta é somente rodovia, não tem faixa de pedestres e mesmo passagem para pedestre é difícil, pois do ladinho tem um túnel. Mas eu consegui, com muito esforço e boa vontade - e ainda fui parar nesse mesmo local uma outra vez, quando me perdi nos arredores de Taksim. Em frente a estádio, a Mesquita de Dolmabahce (pertencente ao Palácio de Ataturk). Prá mim é a vista mais reconfortante que existe em Istanbul, porque é o primeiro ponto que a gente vê assim que toma o rumo de casa. Então, toda vez que chego em Istanbul e tomo o ônibus para o centro, e de lá o taxi para a casa, a Mesquita gigantesca é o primeiro marco de que estou outra vez naquela cidade. É uma área sempre congestionada, o trânsito ali é pesado principalmente nos horários de rush. Nessa área do Bósforo (Kabatas) saem/chegam barcos de diferentes cidades da grande Istanbul, assim como navios e cruzeiros de excursão. Já sofri muita raiva, porque pego meu ônibus num ponto bem ali em frente, e em dia dessas excursões infernais fica tanto ônibus de turismo estacionado e despejando turista que atrapalha os motoristas das linhas normais pararem - e já cheguei a ter que ficar em pé no meio da rua, com carro passando, prá não perder ônibus (porque tanto aqui quanto lá não importa - parece que alguns motoristas têm muito prazer em deixar o passageiro prá trás, por pura maldade).
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Parece um barco pirata. Ou de acumulador |
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A Torre ficando para trás. Mas calma, não seria a última vez que navegaria próxima dela, nessa temporada ;) |
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O sol já se pondo; dá prá ver o alaranjado no céu e luz em geral |
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Mais um dia que eu fui feliz |
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Panorâmica do Estádio do Besiktas (em reforma), a Mesquita de Domabahce e o Suzer Plaza, onde fica o Carlton-Hilton que levei os donativos. Como tentei explicar no texto,o local é totalmente anti-pedestres: reparemo trânsito e a entrada de um túnel,difícil prá caramba andar a pé aqui. Sem contar que é uma ladeira. |
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Palácios a beira do Bósforo |
Uskudar no verão: post de 2014