"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre." ~Jose Saramago
"The journey is never over. Only travellers come to an end. But even then they can prolong their voyage in their memories, in recollections, in stories. When the traveller sat in the sand and declared: “There’s nothing more to see” he knew it wasn’t true. The end of one journey is simply the start of another. You have to see what you’ve missed the first time, see again what you have already seen, see in Springtime what you saw in Summer, see at daylight what you saw at night, see the sun shining where you saw the rain falling, see the crops growing, the fruits ripen, the stone which has moved, the shadow that was not there before. You have to go back to the footsteps already taken, to go over again or add fresh ones alongside them. You have to start the journey anew. Always. The traveller sets out once more’. ~Jose Saramago
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Belo Horizonte, 30/12/2015 |
Antes e durante a preparação da minha primeira viagem a Istanbul em pleno inverno, uma pergunta era recorrente: vale a pena? Li e reli dezenas de relatos; mesmo assim parti cheia de dúvidas, medos e ansiedades (totalmente infundadas) - Istanbul vale a pena SIM, ser visitada durante o inverno, bem como no verão e outono - primavera, ainda não experimentei, mas não tenho dúvidas, e é a minha próxima meta! As maiores preocupações além das ameaças de ataques terroristas (que infelizmente aconteceu, no meu 13o dia na cidade), eram em relação ao que vestir para enfrentar temperaturas negativas e o que haveria para fazer, debaixo de todo esse frio. Seria possível visitar atrações ao ar livre? E a chuva ameaçadora, abundantemente presente em todo quadro meteorológico que eu analisei? Apesar de ter morado dez anos nos EUA, em Phoenix nunca nevava - então minha experiência no assunto era nula. Com base nas leituras e inúmeras conversas com locais e amigos que passam/já passaram por invernos rigorosíssimos, aprendi a velha máxima, da "vestimenta em camadas". E assim fui, sem saber que nível de sucesso atingiria. Ao embarcar no calor de 40oC do Rio de Janeiro (sensação térmica de 55oC!!), contava com um blusão de couro meia boca nos braços, um par de luvas, gorro&cachecol de lã na bolsa, uma calça jeans dentro da mala de mão e botas impermeáveis nos pés. Sem saber direito contra "o que" eu lutaria, fui assim , meio que as cegas e entregando prá Deus....
Before and while preparing my first trip to Istanbul during winter, a recurrent question was stuck in my mind: would it be worthy it, visiting the city during the freezing season? Have in mind Iam a Brazilian, with no experience in snowstorms. Most of my worries (despite the terrorist attack threatens - which unfortunatelly did happen on my 13th day in the city) were concerned about "what" to wear to handle below-zero temperatures. Also, what would be possible to do under such weather? Would it be possible to walk around or visit open air attractions? And the non-stop rain I've read in most of the graphics I've analized? I did not know what to expect in Europe, on the last day of 2015. After talking to friends that have experienced negative digits tempeatures, I learned about the "dress in layers" mantra. And I took that plane, not so sure how succesful my packing would prove to be. This was my fifth time in former Constantinople - which I can now guarantee, is TOTALLY worthy being visited during winter time! As much as in Summer and Fall,which I had previouly experienced. At Rio de Janeiro International Airport temperature reached 40oC (with a feeling of 55oC!), but nevertheless, I boarded holding a leather jacket, a pair of gloves, a hand knitted cap and scarf, a pair of jeans in my handbag (just in case I needed them over my leggings) and waterproof boots on. Not really sure against "what" I would be dealing or fighting with, I put it all in God's hands ...
Na conexão em Roma, atraso de algumas horas para reembarcar - por conta da tempestade de neve caindo sobre Istanbul, o Aeroporto de Ataturk estava temporariamente fechado. Finalmente nosso Alitalia partiu , mas o piloto teve que ficar dando rolezinho no ar, até conseguir uma chance de pousar. Sobrevoar a Turquia coberta de neve foi uma visão maravilhosa - e no momento do pouso, ver tudo coberto de branco foi uma emoção indescritível, pois foi minha primeira vez. Passando pela fila imensa da Imigração e tomando a direção à fila do onibuzinho até o centro; ainda dentro do aeroporto aquecido já vesti meu casaco, gorro, cachecol e luvas .. tudo parecia pouco. Lá fora a neve caía em forma de tempestade. Rapidamente o nariz parece que vai cair, e a boca anestesia, e "falar" fica quase impossível.
Our plane was delayed in Rome (where I had my connection) for a good few hours, as it was heavily snowing in Istanbul, and Ataturk International was temporarily closed. Finally Alitalia had permission to go, but the pilot had to fly around Istanbul's Airport for a lon till it was possible to land. To fly over snow-covered Turkey was a dreamy vision. By the time the plane touched the runaway, it was incredibly beautiful to see everything under a white blanket- that was my very first time in contact with a real snowstorm, and I a so excited. As soon as I left the long lines of Immigration/Passport Control, I put on my coat, gloves, hat and scarf ... nothing seemed enough to stand the cold outside. The snowstorm fell in steady, soft flakes, and immediately I thought my nose was going to fall, and my mouth got anesthetized, and speaking was almost impossible.
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O chão coberto de neve |
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A divisa da água com a terra |
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Já bem próximo ao solo |
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Galpão de manutenção da Turkish Airlines |
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Torre de Comando |
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Laterais da pista coberta de neve |
Fui surpreendida pelo meu amigo Serkan, que me encontrou na fila sem combinarmos, e que fez questão de não somente me colocar dentro do ônibus, como de esperar o mesmo partir. Os meus amigos turcos são muito hospitaleiros, cuidadosos ao extremo e me tratam como uma princesa, me paparicando de toda forma possível. Cheguei a comentar com o meu colega de assento, que ele achava que eu era um bebê :) Já havia ligado para os meninos da casa, que preparavam o jantar e me aguardavam; também me deu mais dinheiro vivo caso fosse necessário (tinha comigo 80 Liras Turcas, para o taxi, sendo que mais da metade desceu ralo abaixo de maneira desonesta, pelo taxista sem escrúpulos que tive a infelicidade de cruzar pelo caminho. Mas se tudo corresse exatamente como o programado não teria graça né ... nem emoção, nem histórias dramáticas e engraçadas para contar. Chegando ao centro - Taksim - seria somente pegar um táxi até a casa; que fica entre 20-30 Liras Turcas (equivalente ao Real). Os taxistas lá são vigaristas, então vc tem q ter muita maldade. Antes de entrar eu perguntei qto seria, ele me disse entre 120-150!!! Imagina, lógico q dispensei, ele me xingou ... aquela confusão, ainda mais que entendi ele falando "yabanci" algumas vezes, que signifca "estrangeira" (código para "vamos depenar! porque é assim que alguns prestadores de serviço desonesto vêem os estrangeiros, pessoas ricas e passíves de serem feitas de palhaça a torto e a direito, pelo único motivo de não falarem a língua deles) . Andei prá caramba e inclusive tive ajuda de duas moças desconhecidas para empurrar a minha mala, até conseguir outro táxi (estava uma bagunça, debaixo da tempestade, véspera de Reveillón, tudo escuro, porque lá escurece as 16:00). Perguntei esse segundo taxista se ele tinha taxímetro; e entrei. Observando o taxímetro, em menos de 2 minutos, ele já estava na casa dos 6,95!!!! Ou seja, o cara estava me sacaneando. Eu falei com ele, MOÇO O SENHOR ESTÁ SENDO DESONESTO COMIGO. E começamos a discutir e ele ameaçou parar o táxi. Novamente uma longa estória que vou resumir ..... por fim acertamos o trajeto em 50 LT (seria o dobro, mas eu estava morta de cansaço, mala pesada, neve caindo, já ficando tarde, próximo as 21:00). Num certo momento uma das avenidas estava bloqueada pela polícia e ele me disse que não poderia seguir em frente, e me fez descer do táxi. Assim, no meio da rua, totalmente perdida, com mala pesada, debaixo de neve. Ele levou minhas 50 LT, o que considerei um roubo ... E mentiu, disse q eu poderia caminhar até o meu destino final. Foi um fdp sem preço; e eu amaldiçoei o dinheiro que dei a ele. Não pela grana em si, mas pela DESONESTIDADE. Um cara desse não pode ser feliz .. e ele não quis me emprestar o celular, para ligar para os meus amigos! Então lá me vi, sozinha e perdida debaixo do frio, viajando há mais de 24 horas, empurrando a minha mala sobre a calçada coberta de neve - só quem já fez isso para ter idéia do esforço que é, pois o peso triplica, e alem do mais é preciso tomar cuidado para não cair porque é muito escorregadio andar sobre o gelo, como patinar. Caminhei até encontrar um policial; na verdade um grupo de policiais, eles não falavam muito inglês e ao ouvirem minha história, pediram para ver meu passaporte (o equivalente a "bebida quente" que o Sheldon recomendava em casos extremos, na série Big Bang Theory). Em todo caso, eles me orientaram a chegar numa estação de metrô. Lá na porta encontrei 3 rapazes e expliquei prá eles o que tinha acontecido. Eu não tinha ainda comprado o cartão de transporte, pois tinha praticamente acabado de pisar na cidade, e nem dinheiro trocado. Eles eram estudantes e para minha sorte além de falar inglês, estavam indo para a universidade. Bingo! De lá eu saberia chegar a pé até a casa. Eles carregaram minha mala pelas escadarias do metrô afora, e pagaram minha passagem. Foram verdadeiros anjos. Então fica difícil julgar ... encontrei um taxista infame e posteriormente, 3 anjos que me puseram no caminho. A caminhada entre a universidade e a casa foi uma epopéia ... somente euzinha, nesses meus míseros 50 e poucos quilos, puxando um peso que deveria ser no mínimo 3 vezes mais que o meu próprio, entre ruas totalmente cobertas de gelo. Às minhas próprias custas, aprendi em 2 segundos que pisar na neve fofa era infinitamente mais seguro que patinar no gelo em forma de lâmina .... algumas partes me foi possível andar na rua, que apresentava alguns oásis de asfalto aqui e ali, mas o fluxo de carros foi ficando intenso, e era tenso ter que parar toda vez que algum automóvel tirava uma fininha. E a neve caía impiedosamente, até que finalmente cheguei a minha ladeira favorita. E pensei que seria impossível descer por causa das condições. Mas daqui dali fui devagar, devagarinho até que, consegui! Dobrei a esquina, a casa cor de rosa da mulher que alimentava os gatos no verão de 2014; cheguei até o portão (não, nenhum cachorro me sorriu latindo), até ficar cara a cara com o interfone iluminado! Apertando o "numarada" 7, nenhuma voz me respondeu ...mas a portaria se abriu como num passe de mágica, como num "abre-te-sésamo" .... e em segundos meu anjo da guarda dos olhos mais azuis desse mundo se materializou a minha frente, e subiu com minha mala pesada todos os penosos degraus até chegar ao 4o andar sem elevador.
I was suprised by my friend Serkan, who found me waiting at the airport's shuttle line. Not only he made sure to put me inside the bus, but also waited until it departed and even gave me extra Turkish cash in case I needed. My friends shower me with attention and spoil me rotten, treating me like a princess. Meanwhile, the guys in the house were already cooking dinner. I made it to the downtown area - Taksim - and from there, I should take a taxi until the house. I've done this numerous times, and I know the price is between 20/30 Turkish Liras. But unfortunately, you can not trust all taxi drives in Istanbul, because some take advantadge of tourists and overcharge. So, before boarding, I asked how much that would be, and he told me, something between 120/150 Turkish Liras! Of course I did not go inside his car, and of course he cursed me as only Turkish people can curse. I had to walk a lot until I was able to find another taxi - the downtown area was chaotic under the heavy snowstorm; it was dark, crowded and on top of everything, it was New Year's Eve. I made sure this second cab driver had a taximeter on, and got in the car. Before two minutes passed by, the taximeter was already registering 6,95 Turkish Liras!!!! He was shamelessly cheating! I told him, SIR YOU ARE BEING DISHONEST WITH ME, and we start to fight. He threatened to pull over, and long story short, we agreeded he would charge me 50 Turkish Liras. Still double the fair price, but I was so tired after such a long trip, my luggage was heavy, the snow was falling, it was getting late .... At a certain point, the police blocked the road, and the taxi driver told me I had to get out cause it would not be possible for him to go on anymore - he broke the news as short as that, and I suddenly found myself lost and alone in the middle of the street, after such a long trip, my luggage was heavy, the snow was falling, it was getting late .... he took my 50 Turkish Lira, which I considered a theft ... and he lied to me, he told me I could walk until my final destiny. He was a son of a bitch, and I cursed the money he took from me. It is not about the money itself ( I usually tip Turkish taxi drivers!); it is about te principle, the unecessay DISHONESTY for the mere fact you are a foreigner and don't speak their language and they assume you are "rich" (or a fool). A guy like this can not be happy - and he did not lend me his cell phone, so I could call my friends. So there I was, under the cold, traveling for over 24 hours, pushing and pulling my luggage over the streets covered in snow - with no idea where I was. I walked until I found a group of policemen that did not speak much English and somehow explained them my situation and they were able to point me the way to the nearest metro station. On its entrance, I found three young guys and I told them what has just happened. Luckily, not only they spoke fluent English, but also were students on their way to the university. They took turns carrying my luggage throughout the station, and even paied fo my ticket. From the universiy, I would be able to get home easily, on foot. Thus, it is very difficult for me to judge, as I met one infamous bastard taxi driver but right away, three helpful gentlemen.
The way between the university and the house was epic ... me in my 50 something kilos, carrying three times this weight which had probably been my bag then. In two seconds and on my own expenses, I learned that stepping on the piles of fluffy, fresh fallen snow was much safer than solid, slippery ice. The snowstom kept falling heavily, and somehow I arrived at the hill I was supposed to go down to get to the house. I slowly and carefully climbed it down, as it was fully and totally and completely covered in snow, and I thought it would be impossible to walk without falling, carrying my pink bag. I turned the corner, and I made it to the building! I pressed the number 7 on the interphone, and although no voice answered, the door was immediately opened as an "open sesame" had been shouted .. and in matter of seconds, my most blue eyed angel showed up at the entrance, taking my luggage upstairs right away, climbing each and all steps up to the 4th floor .
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Dentro do meu quarto,com minha gatinha Iulia |
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Olheira pouca é bobagem,mas o sorriso e a alegria são sinceros |
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Primeiro jantar turco, preparado pelos meus anjos da guarda Ismail&Muhterem |
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Sobremesa: waffle com frutas frescas |
Chegar ao "meu" quarto nessa altura do campeonato não tinha preço. Ao abrir a porta já bem curiosa e com o coração batendo a mil pela oportunidade de rever minha Iulia - a gatinha que resgatei bebezinha em 2014, agora com 1 ano e 4 meses, moradora da casa. Ela se escondia atrás da cortina, e me deu algumas patadinhas, unhadas e mordidas ao tentar me aproximar, pois não me reconheceu de imediato. Muhterem me preparou o melhor prato de comida dessa vida (depois de 24 horas + sem comer até sopa de pedra né?), e sobremesa de waffle com banana e laranja fresca do tamanho do mundo. Depois de colocarmos o papo mais ou menos em dia, eles se recolheram e eu fiquei sozinha, apreciando da minha cama e janela a tempestade de neve que caía lá fora - e aguardando pela chegada do Ano Novo, tanto no horário turco quanto no horário brasileiro (4 horas de diferença), já que o jet lag e toda a excitação da viagem não me deixou dormir.
Getting into "my" room was priceless. As soon as I opened the door my heart was beating fast, as I was dying to see my sweet cat Iulia again, after 1 year and four months have passed since I rescued her, when she was just a baby. My friends surprisingly kept her as an indoor pet. She was hiding behind the curtains as obviously she did not recognize me, and after some kicks, bites and scratches, she got a little closer. Muhterem brought me dinner, the best food I've eaten in this life (after 24 hours plus without a decent meal, that was simply Heaven!) and waffle for dessert, covered with fresh banana and orange slices. After we chatted for a while, the couple went to their bedroom and I was alone, enjoying the snowstorm view from the comfort and warmth of my bed and window - while waiting for the New Year to arrive, both in Turkish and Brazilian time zones (4 hours difference). The jet lag and all my excitement made it impossible for me to fall asleep right away.
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Porque a gente não vive sem o chá nosso de cada dia |
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Ainda desconfiada e se escondendo de mim atrás da cortina |
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