segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ILHAS GALÁPAGOS – PARTE IV

AS ILHAS

“Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver,
Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
José Saramago


Com a mudança em 2011 do sistema de visitação nas ilhas (uma semana no norte, outra semana no sul), o próprio guia nos explicou que algumas atividades menos interessantes foram inseridas nos roteiros, como forma de preencher os buracos. Antes disso, em uma semana se fazia a vista das ilhas mais exuberantes.
Essa questão foi detalhadamente explicada pelo guia, que parecia sentido por ter de fazer algumas caminhadas para somente observarmos paisagens, quando “quente” no local são os bichos.
Mas tudo pelo bem da conservação de Galápagos.
As visitas são previamente agendadas com os demais barcos que estão visitando uma mesma ilha. Assim, às 14h a gente saia pra um passeio e já encontrava um grupo deixando o local e, quando estávamos saindo, encontrávamos outro grupo chegando. Dessa forma a gente sempre tinha tranquilidade pra observar as coisas, ouvir o guia e tirar as fotos. As vezes, tínhamos mais sorte que outro grupo, como o dia em que a coruja pousou na árvore bem à nossa frente, quando chegamos em Prince Philip’s Steps. O mesmo aconteceu com o gavião. Por outro lado, o grupo anterior comentou de passagem que haviam visto mais iguanas terrestres do que nós vimos: claramente, vimos somente uma, tendo percebido mais umas duas debaixo dos arbustos.
O guia também falou várias vezes que eles, guias, não podem fazer absolutamente nada em relação ao aparecimento ou não de bichos. Parece óbvio mas, segundo ele, alguns passageiros costumam reclamar quando não avistam os animais prometidos para determinada ilha, e acabam ficando descontentes com o guia. “É a natureza”, ele se desculpava. A gente percebe uma evidente satisfação no guia ao avistarmos muitos bichos e espécies tidas como mais difíceis. Por exemplo, na descida do Vulcão Sierra Negra, estávamos eu, o guia e mais uma colega bem pra trás dos demais, e, de repente, pousou num galho à nossa frente o passarinho mais vermelho que já vi. Era exatamente o pássaro que ele havia comentado na van, a caminho do vulcão.
Nos é solicitado manter certa distância dos animais e não é permitido em hipótese alguma tocar os bichos, por mais próximos que eles possam chegar de nós – e alguns chegam. Nem mesmo o guia é autorizado ou já chegou a tocar os animais, como podemos supor. Somente os “rangers”, guardas especializados em manter o controle da fauna e flora da região, tem autorização para tal.
Somos instruídos a nos manter estritamente dentro da trilha demarcada, que muitas vezes passa ao lado de ninhos de tartarugas-marinhas, por exemplo. Olhar pro chão é sempre uma boa, pois algum bicho pode estar ali e a gente nem ver. É bom também prestar atenção nas conchas que se pegam para observação na praia – minha colega pegou uma e, quando viu, tinha um bicho lá dentro. Não é permitido catar pedras ou conchas das praias, para trazer como souvenir. Se o guia vir, ele pedirá para devolvermos. E se os guardas no aeroporto virem, pode chegar a resultar em multa de uns $500 (quinhentos dólares).

A proximidade do atobá. Aliás, ele ficou bem curioso de saber o que diabos eu estava fazendo...
Ilha Genovesa, Baía Darwin
As setas indicam os caminhos que devemos seguir. Aqui, a coruja nos acompanhou por certo tempo.
Lá atrás, um nazca. Ilha Genovesa, Prince William's Steps
O buraco na areia é um ninho de tartaruga marinha e os rasros, rastros de tartaruga. Isso está bem à beira da trilha, por isso, todo cuidado é pouco. Ilha Isabela, Baía Urbina.
Uma das caminhadas para ver paisagem. Ilha Rábida.

Dia 1 –   ILHA SANTA CRUZ – Praia Las Bachas

Chegamos, nos instalamos, almoçamos navegamos e desembarcamos nessa praia, que fica na Ilha Santa Cruz. O sol estava a pino e as cores ficaram vivíssimas. Foi uma visão do paraíso – e a gente pensa, putz, tem gente que chama isso de trabalho! :-) Tivemos uma introdução a Galápagos, algumas advertências e vimos alguns bichos, mas tudo foi bem light, como um preâmbulo.
Voltando ao barco tivemos nossa apresentação oficial.
À noite, partimos para 10h de navegação até Genovesa. Foi a noite das primeiras estrelas, enjoos e ajustes - banho em movimento, sono entrecortado pelo barulho do motor a toda, e, finalmente, o melhor despertador: o baixar da âncora ao chegarmos lá.



Dia 2 –   ILHA GENOVESA              
                Baía Darwin
                Escadaria do Príncipe Philip/ Prince Philip’s Steps

Genovesa é o paraíso dos pássaros. Ao desembarcarmos na Baía Darwin, a gente se impressiona com a quantidade de pássaros voando, ninhos, variedades. É a primeira vez que temos contato com o que Galápagos tem a oferecer, o famoso laboratório natural de evolução. Fazemos uma caminhada de mais de 1h por entre pássaros e alguns leões-marinhos. Os atobás-de-nazca (Nazca booby, em inglês), o atobá-de-pé-vermelho (Red-footed-booby), a pomba-de-galapagos (Galapagos dove), os tentilhões-de-darwin (Darwin’s finches), a gaivota-de-cauda-bifurcada (Swallow Tailed gull) e outros muitos, de todas as idades.
Depois da caminhada, um tempo para snorkel.
Volta ao barco, almoço, sesta.
Caminhada em Escadaria do Príncipe Philip. Ao subirmos os degraus de pedra, fomos recebidos pela coruja-dos-banhados (Short eared owl). Foi uma comoção! Caminhamos por muitos ninhos, os nazca em dança de acasalamento, mamães e filhotes, mamães e ovos – é muito bicho.



Dia 3 -    ILHA BARTOLOMÉ
                ILHA SANTIAGO – Baía Sullivan

Mais uma navegação noturna, outras 10h, mas dessa vez foi mais fácil dormir, mesmo com o barulho do motor. A gente se acostuma a tudo, ainda mais que o ruído era constante.

Ao abrir a cortina de manhã, lá estava a Rocha Pináculo. Pena que o tempo esteve nublado.
Saímos para uma caminhada e uma subida feita em degraus até chegarmos ao topo, para a vista mais fotografada de Galápagos – 10 entre 10 matérias sobre o arquipélago são ilustradas com essa vista de Bartolomé. Durante a visita, o falcão-das-galapagos vem ver o que está acontecendo.


À tarde, fomos para a Baía Sullivan, um imenso campo de lava formado pelas erupções vulcânicas. Um buraco no meio da lava faz a alegria do pessoal! E, mais uma vez, o falcão-de-galapagos dá o ar da graça.
Depois da caminhada e de aprendermos tudo sobre os campos de lava, tempo pra snorkel ou praia. Fui de praia.

O falcão está nas pedras, no canto direito da foto, posando.


Dia 4 -    ILHA ISABELA – Puerto Villamil
                Vulcão Sierra Negra
                Centro de Crianza “Arnaldo Tupiza”
                Beto’s Bar – wi-fi  

Mais uma longa navegação noturna até chegarmos na Ilha Isabela. O plano é contornar a ilha, mas hoje vamos à cidade, para compra de bebidas e lanchinhos pra festa à bordo, que acontecerá na noite seguinte.
Temos de pagar $5 (cinco dólares) para termos acesso à ilha. Pegamos uma van que nos leva até as lojinhas da cidadezinha, Puerto Villamil, de mais ou menos 2mil habitantes. Lembra as cidadezinhas do litoral capixaba. Depois das compras, e debaixo de chuva (devidamente vestidos de capas de chuva), vamos subindo até o ponto inicial da caminhada do Vulcão Sierra Negra, de uns 1.800m de altura. Depois do Cotopaxi, isso é fichinha.
Está chovendo e as nuvens não nos permitem ver nada da cratera do vulcão, objetivo da caminhada. Chegando ao ponto máximo, sentamos e o guia divide uma Coca-cola conosco. E o passeio, infelizmente, fica nisso. Nem deu pra tirar fotos...
Ao descer, vimos o papa-moscas vermelho (Vermilion flycatcher) pousar em um galho bem à nossa frente!
Voltamos ao barco para o almoço.

Os leões-marinhos fazem um espetáculo em nossa chegada à Puerto Villamil.

De volta à terra (NÃO é preciso pagar taxa novamente), vamos até o centro de criação de tartarugas terrestres Arnaldo Tupiza, onde as tartarugas são criadas e posteriormente restituídas ao ambiente natural. Segundo alguns colegas que visitaram a Fundação Charles Darwin na Ilha de Santa Cruz, esse centro é bem mais interessante de visitar. São vários tanques com tartaruguinhas de várias idades, a maioria descansando preguiçosamente, o que rende poses deliciosas!
Ali ouvimos muito do que se pode ouvir sobre as tartarugas terrestres em Galápagos, conhecemos a manzanilla, a maça venenosa pra humanos, mas perfeita para as tartarugas e vimos o berçário, onde nos mostraram as diversas fases da gestação de uma tartaruga e, finalmente, um bebêzinho de dois dias.
No centro também há uma pequena exposição sobre as tartarugas e tem uma lojinha, mas muito simplezinha, sem nada muito legal.

"Comparada à vida das tartarugas, a vida humana é curta.
Portanto, nunca viveremos para ver esses bebês se tornarem gigantes"


Saindo dali, fomos até o Beto’s Bar, um local super legal pra uma bebida e.... se conectar! Foi a única vez nesses 8 dias que conseguimos contato com o mundo exterior. Não posso afirmar se há sinal de celular não durante o percurso porque não estava com chip local. Oportunidade de wi-fi tivemos somente nessa parada em Puerto Villamil e inclusive outros passageiros comentaram o quão boa foi essa desconexão com o mundo. Portanto, pelo visto não tivemos ninguém tentando fazer o celular funcionar.
O bar fica à beira mar, então deu pra fazer uma caminhada pela praia e pelo centrinho do vilarejo. Fomos até uma igreja, que imagino seja de São Francisco de Assis, por causa da estátua do santo logo na entrada, e, mesmo depois das riquezas de Quito, vi o altar mais lindo da minha vida!


Depois, foi nos encontrar na pracinha para voltarmos pras docas e pro barco.



Dia 5 -    ILHA ISABELA
                Baía Elizabeth
                Baía Urbina
                Festa a bordo

Navegamos novamente durante a noite até o outro lado da ilha e ancoramos na Baía Elizabeth. O dia estava maravilhoso! Logo ao levantar, já a paisagem era animadora: o mar e os pássaros pescando.


Saímos para uma volta de bote.
Uma das primeiras coisas que vimos, foi o Vulcão Sierra Negra, totalmente descoberto, ao longe... Bem, não se pode ganhar todas, não é o que dizem? Mas o importante é o agora.


Vimos pássaros pescando, nosso primeiro pinguim-de-galápagos e colônias de atobás-de-pé-azul nas rochas.


E fomos em direção a uma área de manguezais, em busca das tartarugas marinhas. Ao entrar nos manguezais, desliga-se o motor dos botes e reina o silêncio, para não espantar os animais. O guia senta na frente do bote e vai remando. E, a cada animal, uma emoção!


Em cada um desses passeios, recebemos uma enorme quantidade de informações sobre os animais, sobre as ilhas, a geografia, etc etc etc... Nem vemos a hora passar e já estamos novamente a caminho do barco.
Chegando a bordo, navegamos ilha acima até a Baía Urbina. No caminho, somos acompanhados por alegres golfinhos!!


Almoço, sesta e uma caminhada sob um sol escaldante, em busca de tartarugas terrestres em seu habitat natural. Aqui também é o local para se ver as iguanas terrestres de Galápagos. Vimos uma tartaruguinha bem na trilha, outras sob as árvores, mas somente uma iguana terrestre...
Houve um tempo para snorkel e voltamos a bordo.


Outra navegação até Tagus Cove, onde ancoramos para passar a noite.
Ancorados, começamos a nossa festinha a bordo meio sem graça, os passageiros se juntaram em uma brincadeira sugerida pelo americano, o pessoal começou a beber. O pessoal da tripulação ficou no refeitório ou em suas cabines, vendo Tv ou jogando cartas. Até que decidiram subir e ligar uma música latina horrível, mas dançável, e a festa começou propriamente. Eu não fiquei muito na festa, fui logo dormir, mas as últimas gargalhadas que ouvi, fiz questão de olhar no relógio, foram às 04h! Portanto, não posso relatar com propriedade como é uma festa a bordo... mas, posso dizer que fofocas chegaram aos meus ouvidos... ;-) Isso parece ser universal.


Dia 6 -    ILHA ISABELA – Tagus Cove/ Caleta Tagus
   ILHA FERNANDINA – Punta Espinoza

Eu acordei ótima, pronta pras atividades, mas o guia teve de pular no mar umas 3 vezes pra poder acordar e estar de pé pra nos levar pra caminhada matinal. Outros passageiros saíram de suas cabines como se estivessem saindo da cova. Nada como a equação boa bebedeira + poucas horas de sono para derrubar as criaturas!

Tagus Cove é realmente uma caminhada mais sem graça, onde vemos um lago bonito e subimos em algumas rochas para uma visão mais panorâmica. Depois da caminhada, tempo pra snokel a partir do bote. A água estava ge-la-da, o que causou alguma hesitação. 
Eu fiquei no bote, assistindo o leão-marinho brincar com o pessoal. 

 
 
 
 
 

De tarde fomos pra Punta Espinoza, na Ilha Fernandina. Lá é a terra das iguanas marinhas, milhares delas, por toda parte.
E novo tempo para snorkel a partir do bote. E curtir a paisagem... 

 
 
 
 
 
 
 
 
O cormorão-das-galápagos, ave que perdeu a habilidade de voar por falta de predadores.
 
 
 
Um cardume de arraias (cardume??)


Dia 7 -    ILHA SANTIAGO – Praia Espumilla 

Essa manhã o pessoal saiu cedíssimo (06h30) para um snorkel. Eu fiquei no barco, dormindo.

               ILHA RÁBIDA 


Navegamos até a Ilha Rábida.


A ilha possui uma areia vermelha.

Foi mais uma caminhada para vermos a paisagem e depois tempo para snorkel ou praia. Fui de praia.

 
 
 
 
 
A pesca dos atobás-de-pé-azul
Opa!
Quem vem lá?
É esse menino, que vem...
...e que passa, a caminho do mar...
 
 

               
Dia 8 -    PRAIA MOSQUERA
                Desembarque e partida


Acordamos bem mais cedo, 06h! São nossas últimas horas em Galápagos e temos de aproveitar ao máximo! Vamos desembarcar na Praia Mosquera, local de centenas de leões-marinhos.

Vimos o nascer do sol da ilhota, conforme o programa. ;-)
É uma caminhada deliciosa pela praia, como todos aqueles bichos. Nem penso que daqui a pouco, estarei no avião, partindo. A vida é aqui e agora. 


Nascer do sol

Um leão-marinho macho perigosamente perto do pessoal desembarcando...
 
 
 
 
 
Os leões-marinhos não adotam. O bebê da foto, voltando do banho de mar, vai em busca da mãe. Nesse caso, ele foi repelido pela fêmea, e se afasta. Caso não encontre a mamãe, é morte certa...
 
 
 

Tudo que começa, um dia acaba.
A gente volta pro barco e vai terminar de organizar as malas, entregar a gorjeta do pessoal, se sente meio perdido. Meu voo é o mais cedo de todos, partirá às 10h, e sou instruída a sair no primeiro bote, pegar o primeiro ônibus até o aeroporto e fazer o check-in. Os demais se encontrarão todos no aeroporto, mas não precisam correr tanto.
Na verdade, nem eu precisei correr. Entrei no bote com mais alguns passageiros, desembarcamos nas docas, nos juntamos no ponto do ônibus, com mais pessoas de outros barcos, e tomamos o primeiro ônibus. Dá tranquilo para fazer o check-in e ainda sobra tempo. Fazemos a tradicional troca de emails e nos despedimos, cientes de que nunca mais veremos a maioria dos que ali estão. Isso dá certa tristeza. Mas tem sempre aqueles com quem a gente se afiniza mais, e esses a gente se promete não sumir.

O guia me fala que vai esperar eu passar pelo procedimento de embarque para ver se terei algum problema com minhas pedrinhas do Cotopaxi. O problema é minhas pedrinhas serem tomadas como pedras de Galápagos e eu ser barrada. O guia diz que já conversou com a funcionária, mas mesmo assim, fica lá na porta, esperando. Então trato jeito de entrar, pra libera-lo. Seguindo o conselho do guia, mantive minhas pedrinhas na mala de mão, o que facilitaria a inspeção, e não dá outra, o rapaz me pergunta do que se trata, abre, olha, falta cheirar. Mas se convence de que não são pedra locais e eu sou liberada. Sinal de “ok” pro guia lá no portão – agora ele já pode ir aguardar a nova leva de passageiros que chega no AeroGal das 10h... e o ciclo, pelo menos pra ele, começará todo outra vez....

Quanto a mim. Bem, eu sento para esperar o embarque, sentindo um forte incômodo chamado de land sickness, mal da terra, que é sentir o movimento do barco no corpo, como se estivéssemos a bordo. E me dá uma vontade louca de chorar, eu não quero ir embora. Mas tenho que ir embora – horrível.

E embarco, com uma ponta de inveja daqueles que chegam no avião das 10h, olhos arregalados e fotografando sua entrada oficial nas ilhas.

 
 
por C. Maria
 
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