quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

QUITO – Centro Histórico


San Francisco de Quito, nome formal da primeira cidade do mundo tombada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (em 1978), não me impressionou à primeira vista. Talvez porque estivesse nublado; havia chovido há pouco. Peguei um táxi na saída do aeroporto e fui observando as montanhas, que são muitas, as casas que sobem as encostas. Fui me observando também, para ver se a altitude de uma das mais altas capitais do mundo, a 2.850 metros, iria me causar algum desconforto.
O que impressionou foi o trânsito, agitado e congestionado em um iniciozinho de tarde de quinta-feira. Depois de um tempo, começamos a rodar pelo casario histórico, as ruelas, as lojas de artigos religiosos.
Sorriso interno; adoro uma velharia.

Com o maior e mais bem preservado conjunto histórico da América Latina, nessa primeira estada em Quito (voltaria nos meus últimos dias no Equador) escolhi o Centro Histórico para me hospedar, claro. Me instalei no Hostal Quito Cultural, reservado antecipadamente, um casarão colonial com pátio central, decorado com artesanato local e jardins.  

Nesse primeiro dia, fiz somente uma caminhada de reconhecimento e me recolhi para dormir, cansada da viagem. Nenhum desconforto perceptível por causa da altitude.

No dia seguinte, refeita, conheci alguns hóspedes durante o rico café da manhã. Houve uma troca de informações sobre pontos legais da cidade e zarpei! Visitei:

- Iglesia y Convento de San Agustín, onde estava acontecendo uma missa (gratuito);

- Iglesia de San Francisco, uma das principais de Quito, onde fica a imagem da Virgem de Quito, de Bernardo de Legarda,  também conhecida como a Virgem Dançarina, a Virgem Alada, a Virgem de Legarda ou a Virgem do Apocalípse (gratuito);

- Convento de San Francisco, e seu belíssimo jardim, onde alguns papagaios, periquitos e outros pássaros vivem tranquilamente. Subindo a escadaria, decorada com uma enorme tela, visitamos o órgão da igreja (não sei se se pode entrar no convento sem pagar, pois somente entrei após ter comprado o ingresso para o Museo);

Pátio do Convento de San Francisco

- Museo Fray Pedro Gocial, que funciona dentro do Convento de San Francisco, exibe as mais importantes obras sacras da Escola Quitenha (período colonial, séculos XVI a XIX). Ao entrar no museu, uma música de cantos gregorianos enche o ambiente suavemente e pacifica a alma. Alguns artistas em exibição: Bernardo de Legarda (escultor, autor da famosa Virgem de Quito), Bernardo Rodríguez de la Parra (“El pintor de la luz y el color”), Miguel de Santiago e Manuel de Samaniego y Jaramillo, cujo quadro, “El sueño de Jacob”, considerei o mais lindo pela delicadeza - em tons pastéis, mostrando Jacob a dormir e os anjos descendo e subindo pela escada, conforme relata a passagem bíblica. Há também uma bela mostra com os quadros da série “Vida de la Virgen María”, de autoria desconhecida (entrada paga $2 dólares).

- Iglesia de la Compañia de Jesúsgrandiosa e imperdível, recoberta de folha de ouro, levou 160 anos para ser construída (1605-1765). Logo à entrada, de cada lado vemos os enormes painéis do “Inferno” e do “Juízo Final”, cópias dos originais de 1620. Pude ver obras de restauração acontecendo no interior do edifício (entrada paga $3 dóláres);

- Plaza Grande ou Praça da Independência, coração da cidade, com a Catedral, o Palácio Presidencial, o Palácio Arcebispal e a Prefeitura;

A Plaza Grande. Na escadaria da Catedral, uma das muitas turmas escolares que visitam o local.

- Basílica del Voto Nacional, igreja de torres lindas, adornada com gárgulas inspiradas na fauna do país, como as iguanas e tartarugas de Galápagos. Pode-se subir os cerca de 300 degraus até as torres, passando pelo maquinário dos relógios e pela rosácea. As subidas exigem certa condição física e equilíbrio, pois alguns degraus são desiguais ou muito  estreitos e há somente o corrimão como ajuda. Uma senhora à minha frente desistiu da subida ao pé da escada, evidentemente muito difícil para ela, apesar da insistência do marido, que já estava lá em cima - certas coisas são universais... (subida paga $2 dólares);

 
O maquinário dos relógios da torre da Basílica
  
Uma das escadinhas que levam à torre,
o marido subindo e a senhora que desistiu.

- Parque Itchimbia - oh!uau!que ladeira!!!!! Acrescentar ao roteiro para uma autêntica experiência com os famosos morros de Quito. Algumas ruas terminam em escadarias que continuam subindo vertiginosamente. Algumas escadarias são sem saída, como a que subi por engano (bem que o olhar curioso da criança na esquina me alertou que eu devia estar fazendo algo errado). Tive de descer a escadaria e andar mais um quarteirão até chegar à rua correta que... subia. Indicado por um dos hóspedes do café da manhã, pela vista da cidade. Felizmente, a vista espetacular compensa o esforço (entrada gratuita); 

Fiz questão de registrar a escadaria que subi sem precisão...

- La Ronda, situada morro abaixo :), é a rua boêmia da cidade. Ao final da tarde, os estabelecimentos ainda estavam fechados, mas havia muita gente curtindo os jogos dispostos na rua, como amarelinha, totó e outros. Revitalizada desde 2004, a rua hoje é um ponto recomendado por quase todos os equatorianos e não equatorianos com quem conversei em Quito. Segundo eles, é lá que acontece a melhor noite da cidade, não em Mariscal;

La Ronda, ao final da tarde, ainda com os estabelecimentos fechados

- Achei que ia descansar, mas a proprietária do Hostal, Alícia Vega, uma equatoriana simpaticíssima, avó de uma brasileirinha de Brasília, juntou alguns hóspedes e indicou o espetáculo de danças típicas que acontece todas as sextas-feiras às 19h no Patio Cultural do Palácio Arcebispal (entrada paga $2 dólares).   

O grupo de danças andinas


O centro histórico de Quito deslumbra pela beleza e riqueza do patrimônio; exige fôlego para percorrer suas ladeiras íngremes; encanta pela presença constante da Virgem do Panecillo a nos observar ao longe; nos silencia em suas igrejas repletas de devotos dedicados; acolhe através de sua gente simpática. É um lugar para se voltar muitas outras vezes, para explorar os casarios coloniais que hoje abrigam conjuntos de lojas; subir mais ladeiras; visitar mais miradores; fotografar mais; admirar mais.

O sul da cidade, com o Panecillo ao fundo, visto da torre da Basílica

Um avião sobrevoa o lado norte de Quito rumo ao Mariscal Sucre


DIRETO AO PONTO

- Hospedagem no Centro Histórico: em Quito, normalmente escolhe-se entre o Centro Histórico ou o La Mariscal (Gringolandia, área moderna) para hospedagem. Para quem busca mais autenticidade, o Centro Histórico é o ideal. Aqui é a alma de Quito. É movimentado, apertado em alguns pontos, popular, barulhento, impressionante. Os troles buzinam a cada esquina; há policiais espalhados por todo lado; muitas lojas de lã e artigos religiosos, especialmente lojas de roupas para imagens de santos. 
Perto do hostal há o Café Dios no Muere e o El Cafeto, de onde se aprecia a pacífica vista do pátio do convento de San Agustín.

A Basílica do Voto Nacional vista ao fundo

 - Táxis e outros: os preços já são estabelecidos, não tem taxímetro. Então é bom perguntar antes quanto será a corrida, embora, de todas as que fiz em Quito, as mais caras tenham ficado em $10 (de/até o aeroporto). Costuma-se dar gorjeta, mas $1 (um dólar) já é uma boa quantia mínima (usar a regra dos 10%).
Não usei os ônibus nem o trole (bonde). Li que muitos turistas desaconselham esse meio de transporte, mas a Alícia do Hostal Quito Cultural me indicou tomá-lo, exatamente pra que eu tivesse uma experiência "do caroço". Imagino, então, que não deve ser assim tão perigoso.

- Segurança: andei dois dias com minha mochilinha cruzada na frente do corpo e não tive qualquer problema. Vi muitos policiais nas ruas, mas também vi uma faixa celebrando a diminuição da criminalidade. Ao sairmos à noite para o show de dança, levamos somente o dinheiro contado no bolso. Fomos e voltamos sem problemas. Também não tive problemas com os táxis. O aconselhado é sempre pegar um táxi com o nome da companhia na porta, de preferência os amarelos.

- Best Trips 2013: Quito está na lista da revista National Geographic dos top 20 destinos para se visitar em 2013. A matéria do link está em inglês.

O relógio da Basílica e a Virgem ao fundo

- Sites para pesquisa: Site oficial de Turismo de Quito, Quito Turismo e Quito no TripAdvisor.

- Idioma: é bom saber um básico de espanhol para se comunicar. Alguns funcionários nos albergues, lojas e alguns guias às vezes não falam inglês. O espanhol do Equador é bastante claro, fácil de entender para nós, brasileiros. Ainda assim, é bom se preparar um mínimo.


por C. Maria


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2 comentários:

  1. E viva Quito e as jornadas que tanto abrilhantam nosso conhecimento!

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    1. E viva nossos leitores queridos que nos acompanham e comentam!

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